Falta de puxadores de voto pode reduzir disputa por 10 cadeiras a um jogo de cartas marcadas

Por Redação

O cenário eleitoral para a disputa pelas 10 vagas de deputado federal no Rio Grande do Norte, em 2026, já começa a preocupar analistas políticos, dirigentes partidários e até candidatos de primeira viagem. O motivo? A possível falta de nominatas competitivas, o que pode resultar em uma disputa concentrada em apenas três chapas viáveis — um fenômeno raro e que pode ter desdobramentos significativos na representatividade do estado em Brasília.

A matemática do coeficiente eleitoral

A eleição para deputado federal no Brasil obedece ao sistema proporcional. Para eleger um parlamentar, o partido (ou federação) precisa atingir o chamado coeficiente eleitoral, que nas últimas eleições no RN girou em torno de 180 mil votos. Isso significa que uma legenda, para conquistar uma cadeira, precisa somar esse número entre todos os seus candidatos.

Para tanto, é essencial contar com nomes puxadores de votos — aqueles que ultrapassam com folga a marca dos 15 ou 20 mil votos, contribuindo decisivamente para o resultado da chapa. No entanto, o problema que se desenha para 2026 é justamente a escassez desses nomes.

O apagão dos puxadores de voto

Segundo fontes ligadas a diversas legendas potiguares, muitos dos nomes de peso ou já estão em cargos majoritários (prefeituras, Senado, governo estadual) ou migraram para disputas locais, deixando um vácuo nas fileiras proporcionais. Além disso, o desgaste político e a desmobilização de bases tradicionais, como sindicatos e igrejas, também contribuíram para a falta de nomes fortes.

“A verdade é que hoje só três partidos conseguem, com algum otimismo, formar nominatas com chance real de eleger deputados federais. Os outros estão tentando montar chapas com nomes que mal passam dos 10 mil votos. Isso é suicídio eleitoral”, afirma um articulador político ligado a uma federação de esquerda.

Os três favoritos

Atualmente, especula-se que apenas três grupos partidários estariam perto de fechar nominatas com potencial para atingir o coeficiente eleitoral:

Uma federação de esquerda que reúne nomes conhecidos no interior; Um partido de direita com forte presença religiosa e evangélica; E uma sigla de centro que vem atraindo prefeitos e ex-deputados em busca de retorno ao Congresso.

As demais legendas estariam longe do número mínimo necessário para viabilizar a eleição de ao menos um parlamentar — e podem servir apenas como “escada” para puxadores de voto isolados, se conseguirem.

Risco à representatividade

Se confirmado, o cenário pode comprometer a pluralidade de representação do estado na Câmara dos Deputados. “Menos chapas viáveis significa menos diversidade de ideias e regiões representadas. E pior: pode abrir espaço para o fenômeno do ‘voto jogado fora’, quando partidos não conseguem eleger ninguém e desperdiçam dezenas de milhares de votos”, explica a cientista política Ana Clara Nogueira, da UFRN.

As movimentações de bastidores

A corrida para formar as nominatas está em ritmo acelerado. Partidos tentam atrair nomes com capital eleitoral regional, como ex-prefeitos, vereadores em ascensão e até comunicadores. O problema, segundo fontes ouvidas pela reportagem, é que muitos desses potenciais candidatos estão exigindo estrutura, apoio financeiro e garantias que os partidos médios simplesmente não podem oferecer.

A incógnita dos “fenômenos de última hora”

Apesar do pessimismo geral, a política potiguar tem histórico de surpresas. Candidatos com forte presença digital ou com apoio de setores organizados podem surgir como “fenômenos eleitorais” de última hora, mudando o equilíbrio das chapas. Porém, como dizem os veteranos da política local, “não se monta nominata com esperança — se monta com voto contado”.

Conclusão

Se o cenário atual se mantiver, o Rio Grande do Norte poderá viver uma eleição federal com competição real concentrada em poucas chapas, o que favorece alianças pragmáticas, reduz o espaço para renovação e aprofunda a dependência de poucos caciques eleitorais. O risco de um Congresso menos representativo, tanto em termos geográficos quanto ideológicos, é uma consequência que pode custar caro ao estado nos próximos quatro anos.

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