
Numa certa cidade — daquelas em que a eleição é um evento com mais emoção que final de campeonato — um vereador recém-eleito resolveu que era hora de cuidar da imagem. Literalmente.
“Agora sou figura pública”, disse ele, ajeitando o topete na frente do espelho da Câmara Municipal, que mais parecia de camarim de apresentador de auditório. Mandou comprar um terno novo (“algo entre o estadista e o influencer”, segundo ele), contratou uma consultoria de marketing e, claro, criou um bordão para as redes sociais: “Trabalho sério, cabelo alinhado.”
A vaidade do político era tão visível quanto o adesivo com seu rosto colado no vidro do carro. Em vez de reuniões com a comunidade, preferia sessões de fotos com a equipe. Criou uma rotina rígida de gravações: segunda-feira, vídeo motivacional. Terça, bastidores da “agenda cheia”. Quarta, café com “seguidores reais” (assessores disfarçados). Quinta, selfie no plenário. Sexta, recapitulando a semana com uma trilha de Coldplay.
E o povo? Bem, o povo aparecia às vezes, quando servia de pano de fundo para os vídeos. As promessas de campanha foram se dissolvendo no filtro Valencia do Instagram.