
Ela o conheceu durante a campanha. Estava ali, entre cartazes mal colados e promessas bem ensaiadas, tentando acreditar que dava pra mudar o mundo com panfletos e disposição. Ele era o assessor do candidato — sempre apressado, sempre elegante, sempre com um celular tocando e outro vibrando no bolso.
Não era o tipo de homem que se apaixona de primeira. Mas era o tipo que sabe olhar nos olhos com a intensidade exata para fazer você esquecer que está numa sala cheia. Falava com confiança, como quem já decorou todas as respostas. E talvez tivesse mesmo decorado.
Ela sabia que ele era casado. Ele nunca escondeu, mas também nunca contou direito. Falava da esposa com um cansaço ensaiado, como se o casamento fosse mais uma pauta a resolver depois da eleição. “É complicado”, dizia ele, com aquele tom de quem acha que essa frase resolve tudo.
No começo, era tudo nos bastidores: olhares rápidos, mensagens durante as reuniões, encontros entre agendas. E ela, no meio daquele furacão político, foi se deixando levar. Acreditou, talvez por ingenuidade, talvez por escolha, que havia ali algo além do jogo. Algo sincero.
Mas a eleição passou. O candidato venceu. As reuniões viraram gabinetes, os sorrisos viraram protocolos e ele… virou ausência. Dizia que agora estava “sobrecarregado”. E ela entendeu. Entendeu que ele tinha prometido a ela o mesmo que o chefe dele prometeu ao povo: tudo. E entregado o mesmo: silêncio.
Ela não guardou raiva. Só uma tristeza discreta, daquelas que aparecem quando se ouve uma música ou se passa perto do lugar onde tudo começou. Não perdeu a fé na política, mas aprendeu que, às vezes, é nos bastidores que se encenam as histórias mais falsas.
E prometeu a si mesma que, na próxima eleição, votaria melhor. E amaria melhor também.