O secretário Rubens Alencar- vamos chamá-lo assim – era um clássico: pose de gestor moderno, cabeça dos anos 80 e o ego inflado como quem acredita ser irresistível só por ter uma sala com ar-condicionado e café de cápsula. Dizia que era “apaixonado por servir ao povo”, mas vivia mesmo era em campanha permanente pelo espelho.

Clara apareceu no gabinete como um furacão silencioso — eficiente, inteligente, casada e, para desespero de Rubens, completamente imune ao seu charme barato. Ela era o tipo de mulher que resolvia um problema antes que ele virasse escândalo, e isso, para um homem acostumado a cercar-se de puxa-sacos, era quase afrodisíaco.

Rubens confundiu competência com convite. Achou que os “bom dia, secretário” dela vinham com segunda intenção, e que o lápis no coque era uma provocação erótica. Começou com os clássicos: elogios fora de hora, mensagens com duplo sentido, convites para “reuniões estratégicas” fora do expediente — sempre em restaurantes com luz baixa e cardápio que ele mal sabia pronunciar.

Clara, com a elegância de quem já viu esse filme mil vezes, recusou tudo com polidez cirúrgica. Disse “não” com classe, firmeza e um sorriso que fechava portas. Mas Rubens, mimado pelos sim fáceis da vida pública, transformou a rejeição em ofensa pessoal.

E aí veio o troco mesquinho: demitiu Clara sob a desculpa de “reorganização administrativa”, como se ela fosse um móvel fora do feng shui do gabinete. Malas prontas, crachá entregue, mas a vingança do secretário estava só começando.

Rubens, ressentido e frustrado, passou a difamá-la nos bastidores. Dizia que Clara era “problemática”, “arrogante”, e que “não sabia separar pessoal do profissional” — uma frase curiosa, vindo de alguém que confundiu um organograma com um Tinder institucional.

Mas o mundo gira, e rápido. Clara foi contratada dias depois por outro órgão, onde o café é ruim, mas o respeito é bom. Enquanto isso, Rubens continua na sua salinha gelada, falando sozinho e flertando com a própria decadência.

Moral da história? Quando um homem pequeno ocupa um cargo grande, o desastre é só questão de tempo — ou de ego ferido.

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