Dizem que o Brasil é governado por políticos. Ingenuidade. O verdadeiro poder está nas mãos de uma figura quase mitológica: o assessor parlamentar de gabinete.

O assessor é um especialista em tudo: orçamento público, leis que ele nunca leu, e principalmente em humilhar cidadãos que ousam atravessar a muralha de acrílico do gabinete.

Seu habitat natural é o corredor do anexo legislativo, sempre com um copo de café frio na mão e o semblante de quem está “resolvendo um assunto importante”. Se você, cidadão pagador de impostos, ousar aparecer para pedir alguma coisa, será recebido com o tradicional combo de olhar atravessado, suspiro teatral e a pergunta fatal:

— “O senhor agendou?”

Agendar, no caso, é um ritual mágico que envolve ligações que ninguém atende, e-mails que evaporam, e a insistência de falar com uma chefe de gabinete que está sempre em “reunião urgente” — provavelmente decidindo o buffet da próxima confraternização com verba pública.

Se você insistir, o assessor parte para a segunda etapa: a desqualificação passiva-agressiva.

— “O senhor entende que esse tipo de demanda não compete a este gabinete, né?”

Claro, porque o gabinete do deputado que prometeu asfalto, remédio, e até um novo planeta habitável, não tem nada a ver com suas promessas.

O assessor vive num estado de onipotência intermediária: não manda em nada oficialmente, mas pode te colocar numa lista de “chato insistente” que será solenemente ignorada por tempo indeterminado.

Alguns, mais criativos, se tornaram artistas da humilhação sutil: mandam você aguardar por “apenas cinco minutinhos”, somem por horas e voltam com cara de espanto:

— “Ainda tá aqui?”

Curiosamente, quando um figurão do agronegócio ou um empresário do ramo da “educação complementar” aparece, o assessor vira um golden retriever: puxando cadeira, oferecendo água com gás e anotando tudo com cara de que vai resolver no mesmo dia. Spoiler: vai.

Dizem que um dia os assessores serão responsabilizados por essa cultura de desprezo institucional. Mas, até lá, continuam firmes, blindados por uma muralha de cargos comissionados, indicações políticas e uma certeza inabalável: o povo só serve pra apertar botão de urna.

E, de vez em quando, levar bronca por não ter votado direito.

(Todo o texto é meramente ilustrativo)

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