
Numa cidadezinha do interior, onde todo mundo sabia da vida de todo mundo, havia um vereador muito respeitado na política, mas que também carregava uma fama que circulava em sussurros pelos corredores da Câmara e nas mesas do bar da praça: ele não resistia a uma aventura extraconjugal.
Era um homem de lábia afiada, sorriso fácil e olhos sempre atentos às belezas da cidade. O que começava como um elogio inocente logo virava um convite sutil, uma escapada discreta, um segredo bem guardado – ou pelo menos era o que ele pensava.
As escapadas eram planejadas com maestria. Um compromisso político aqui, uma reunião ali, e ele sempre encontrava tempo para um encontro proibido nos motéis discretos da estrada ou em casas emprestadas de amigos confiáveis. Uma de suas favoritas era a dona de uma boutique, mulher de pernas longas e olhos de promessa. Outra era uma recém-separada que adorava provocar com mensagens picantes durante as sessões da Câmara.
Mas como toda história desse tipo, a sorte dele não duraria para sempre.
Numa noite abafada, ele marcou um encontro com a dona da boutique na pousada de um distrito vizinho. O plano parecia perfeito, até que, ao sair do quarto com ela, deu de cara com um de seus rivais políticos – que, por acaso, também estava acompanhado de alguém que não era sua esposa. O silêncio constrangedor durou alguns segundos até que o outro sorriu e disse:
— Parece que estamos quites, hein?
Os dois riram nervosos e seguiram seus caminhos, cada um guardando o segredo do outro. Mas na política e no adultério, segredos nunca duram muito.
Algumas semanas depois, durante uma festa da cidade, a esposa do vereador apareceu deslumbrante, com um vestido que nunca usara antes, um perfume diferente e um brilho misterioso no olhar. Enquanto ele a observava com estranhamento, um homem se aproximou para cumprimentá-la com intimidade demais para seu gosto.
Ela sorriu e, sem pressa, virou-se para o marido:
— Agora estamos quites também, querido.
E então seguiu para a pista de dança, deixando-o sozinho no meio da festa, engolindo a própria esperteza.